Samba de latada - Josildo Sá e Paulo Moura
Rob Digital, 2007


01. 04:21  Quixabinha      
02. 02:48  Forró de Mané Vito      
03. 03:17  Eu gosto de você      
04. 02:57  Pra virar lobisomem      
05. 05:53  Pro Paulo      
06. 03:33  Nega Buliçosa      
07. 03:06  Fulosinha      
08. 03:29  Fraguei      
09. 03:09  Carimbó do Moura      
10. 03:02  Beijú      
11. 03:02  Cumpade Zé de Bina      
12. 04:09  Baile no Sertão      
13. 04:15  Na água do bebedouro      


Marcado pelo ritmo das tradicionais festas do sertão pernambucano onde o samba, que aí não se distingue do forró, acontece em terreiro de chão batido sob teto de palha ou lata e incorpora triângulo, zabumba e acordeão - este disco resgata uma vertente antiga, porém pouco conhecida da música popular brasileira. O trabalho tem a sólida direção de Paulo Moura, que acrescenta alguns arranjos e composições suas à voz rascante e poderosa de Josildo Sá, uma das mais famosas do forró contemporâneo. Mais uma fronteira redesenhada, uma outra vanguarda estabelecida na trajetória de Paulo Moura. Samba de latada - Josildo Sá e Paulo Moura
Rob Digital

Josildo Sá: voz
Paulo Moura: clarinete
Gennaro: sanfona
Apolo: guitarra
Wagner Santos: baixo (faixas 1, 4, 5, 6, 7, 11 e 12)
Toninho Tavares: baixo (faixas 2, 3, 8, 9, 10 e 13)
Zé Mário: bateria
Quartinha: zabumba (faixas 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 11, 12 e 13)
Raminho: Zabumba (faixas 5, 9 e 10)
Daniel Coimbra: cavaquinho
Jerimum de Olinda: percussão
Andreza Karla: pandeiro e vocal
Kelly Benevides: vocal
Walkíria Mendes: vocal
Arlindo dos Oito Baixos: participação especial na faixa 8

Produzido por Anchieta Dali
Direção Musical: Paulo Moura
Arranjos: Gennaro, Paulo Moura e Anchieta Dali
Gravado na Fábrica Estúdios, Recife/PE por Marcílio Moura e Anchieta Dali
Mixagem: Valdo Loureiro (Rob Digital)
Masterização: Pablo Lopes, Valdo Loureiro (Rob Digital)
Projeto Gráfico: Andre Vallias
Fotos tiradas por Toinho Melcop na Sala de Reboco (Recife/PE)
Josildo Sá Veste: Mariah

Faixa Multimídia: Mariola Filmes
Produção e Direção do Making Of: Mariana Fortes
Câmera e Edição: André Hora
Assistente de Edição: Malu Donanzan
Projeto e Produção Executiva: Escambo Produções / Rozeanne Ferreira
Assistente de Produção: Vinícius Carvalho

Coordenação Geral: Roberta Jansen e Halina Grynberg
Patrocínios: CHESF e FUNCULTURA/Governo do Estado de Pernambuco

Rod Digital
Direção Geral: Roberto Carvalho
Produção Executiva: Rodrigo González Villalobos


Agradecimentos

Nivaldo Jatobá Jr., Maurício Jatobá, Dilton da Conti, Jair Pereira, Serjão Costa, Lúcia Pontes, Bruno Lisboa, Calixto, Kleber Dantas, Felipe Santiago, Jorge Hopper, André Brasileiro, Felipe e Fábio Cabral, Herbert Lucena, Mariah e Filhos, Bruno Herbert, Pablo Magalhães, Rinaldo Ferraz (Sala de Reboco), Carli Jansen, Robertão Jansen, André di Carvalho e Karina Ferreira, Glívio Coelho e Maria Lia.
Samba e forró, uma coisa só
Aquiles Rique Reis

O forró bem que estava precisando de quem o levasse novamente ao lugar de destaque que lhe cabe na música brasileira. Coube a Josildo Sá ser o cara. Forrozeiro popular no Recife, ele demonstra que ainda há muito para se fazer e recriar na música, desde o samba até o forró.

Faz tempo não se tem um trabalho tão bom de se ouvir quanto de se dançar, como este CD Samba de Latada (Rob Digital). Além de contar com uma voz personalíssima, talhada para o ofício, Josildo compõe bem. São dele duas das faixas do CD: "Na Água do Bebedouro" e "Quixabinha", esta em parceria com Anchieta Dali, que também compôs "Fulosinha" e "Beijú". O repertório é perfeito para o que ele se propôs a cantar. Tem bambas do gênero, Gonzagão e Zé Dantas ("Forró de Mané Vito"), além de Cecéu ("Pra Virar Lobisomem"). E também conterrâneos seus, pouco conhecidos, mas igualmente competentes: Caçote do Rojão ("Eu Gosto de Você"), Thiago Duarte ("Pro Paulo"), Oswaldo Oliveira e Dílson Dória ("Fraguei") e Apolônio da Quixabinha ("Cumpade Zé de Bina"). Josildo se destaca em "Quixabinha", "Fraguei", "Fulosinha" e "Nega Buliçosa".

Além do jeitão irreverente de cantar, Josildo tinha na cabeça o projeto de cantar samba como se faz nas latadas das casas do sertão nordestino. ("Latada" é aquele puxadinho que se constrói, no caso com folha de flandres, para proteger o quintal da casa da chuva e do sol). Ele encasquetou que tinha porque tinha de dizer ao público que samba e forró têm o mesmo significado musical e são a fiel tradução da festa armada na latada para se tocar, dançar e cantar música brasileira. Apenas tudo isso.

Mas para tocar o sonho pra frente, Josildo queria muito mais. Pois não foi que o cabra deu de convidar ninguém menos do que Paulo Moura para dividir com ele o seu Samba de Latada. Endoidou o forrozeiro!, imaginaram os céticos. A esses, mestre Paulo calou com um sonoro sim! Encantado, logo seu clarinete soprava os sons que misturavam samba e forró; gafieira e forrobodó; passado e modernidade.

Estava formada a dupla que voltaria se reunir lá mesmo no Recife para muito ensaiar e criar o disco que agora vem a público graças ao apoio do Governo de Pernambuco e da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf).

Paulo Moura é desses camaradas que se fazem ainda mais geniais em seu instrumento graças à imensidão de sua generosidade e de sua vocação para o risco. Quando pouca gente tinha peito para encarar as madrugadas tocando numa gafieira pós-moderna (e não foram poucos os craques que gentilmente recusaram seu convite para uma simples canja), lá estava o maestro Paulo Moura à frente de uma orquestra, no carioca Circo Voador. Feliz, tocando pra moçada se esbaldar de tanto suar, de tanto se esfregar dançando, se divertindo, enquanto ouvia harmonias e arranjos tão modernos quanto a ousadia do Paulo.

E feliz está novamente o maestro genial. Revigorado pelo Samba de Latada, e também pela presença marcante de Josildo Sá, o som de seu clarinete transparente sai ainda mais alegre, ainda mais virtuoso e cheio de síncope e de improviso, pleno de maciez e de manha.

Paulo Moura sola três músicas do CD: "Pro Paulo" (Chico Chagas), "Baile no Sertão" (dele e Gennaro) e "Carimbó do Moura" (só dele). Na primeira, seu clarinete está irresistível: da introdução até a entrada dos músicos, tudo é modernidade envolta pela mais fiel tradição musical brasileira. Mas é no diálogo entre o clarinete e a zabumba de Raminho que o bicho pega, num dos momentos de improviso mais brilhantes já registrados na (pouca) discografia disponível do forró.

Samba de Latada é um CD que traz em suas 13 faixas a amostragem do quão diversificada é a música brasileira; do quanto podem ser mais criativos dois músicos de formação díspar quando se fortalecem no som que vem de suas genialidades.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4, é produtor e apresentador do programa O Gogó de Aquiles na Rádio Roquete Pinto FM do Rio de Janeiro, às segundas-feiras, das 15h às 16h: www.fm94.rj.gov.br


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