Irmãos "choram" baixinho
Mauro Dias
O Globo
 
 

Unidos pelo choro, Raphael Rabello e Paulo Moura lançam disco com show. É mais um capítulo dessa história de música e amizade que começou na década de 70. Neste bate-papo, eles contam os meandros do enredo musical.

Paulo Moura Conheci o Rafael no bar Sovaco de Cobra por volta de 1975, 76...

Rafael Rabello Era um bar que tinha na Penha, freqüentado por gente como o Joel Nascimento. A gente tocava ali. Na época, o Paulo Moura já era o Paulo Moura. Ele era um mito para mim. Paulo representa para o Brasil o que Miles Davis significa para os EUA. Nosso casamento é de mestre com aluno.

Moura Não, não pode ser isso não.

Rabello É, sim. Paulo teve atitudes heróicas que eu segui. Deixou o jazz para tocar choro e, por isso, enfrentou preconceitos no meio musical brasileiro. Eu começava a tocar choro e lembro que foi importante ouvir Paulo executar o gênero.

Moura E, existe um preconceito do público jazzista em relação à música essencialmente brasileira. Esse atual trabalho nosso é uma continuacão do meu disco "Mistura e manda", feito numa época em que a base do trabalho do Rafael era a gravação em estúdio. A intenção foi aproveitar a "carioquice" da música do Rafael.

Rabello Nós dois sempre tocamos standards do choro, mas não sei o que deu na gente na hora de entrar em estúdio. Mudamos todo o repertório que a gente tinha programado

Moura E, não sei o que houve...

Rabello E que, num certo sentido, existe uma confluência entre o jazz e o choro. Assim como o jazz, o choro não é um ritmo. É uma maneira de tocar. O repertório não importava muito porque, na realidade, nós recompomos músicas como "Ronda", "Sampa", "Chorando baixinho" e "Violão vadio".

MouraOs músicos de jazz se desenvolveram incorporando recursos de improvisaçaão. Felizmente, o preconceito em relação a assimilação desses recursos pela música brasileira está sendo superado. No improviso, o instrumentista coloca todo o seu conhecimento musical.

Rabello Temos em comum o gosto pela música brasileira. No CD, que vai ser lançado em fevereiro no Canadá e EUA e em julho na Europa, quase entrou um tema do Radamés Gnatalli. Radamés representa um forte traço de união entre a gente.

Moura Temos convite para fazer o show no Blue Note, em Nova York. A gente deverá viajar...