Uma parceria chorada
Fábio Dobbs
Cult Press
 
 

Paulo Moura vai dar um tempo no jazz e cair no chorinho. A mudanca será para homenagear os 100 anos de nascimento de Pixinguinha, considerado o mestre do chorinho brasileiro. Na homenagem, Paulo reuniu clássicos como Carinhoso, Pelo Telefone e Lamentos e gravou o CD Pixinguinha, Paulo Moura e Os Batutas, lançado esse mês pela gravadora Velas.

O encontro de Paulo Moura com Pixinguinha não é novidade. Paulo tocou com o compositor no início dos anos 50, no Clube Maxwell, do boêmio bairro de Vila Isabel, no Rio. "Ele já estava meio aposentado naquela época", conta Paulo.

As recordações daquele período emocionam Paulo. "Lembro que ficavamos tocando chorinho nos bastidores", diz, com saudosismo. O chorinho, no entanto, foi uma pequena passagem na vida de Paulo, que dedicou major atenção ao jazz. Especialmente ao género bepop, que o americano Benny Goodman colocava em evidência na época. "Fui um dos primeiros a assimilar aquele estilo", acredita.

Em quase 50 anos de caneira, Paulo, além do bebop, passou pelo cool jazz, que tinha Miles Davis como representante máximo e até se arriscou na bossa-nova. O disco Pixinguinha, Paulo Moura e Os Batutas é uma coletânea desse meio século de experiências.

P - Como surgiu a idéia da homenagem?
R - Sou presidente da Associação Casa de Pixinguinha, que procura preservar a obra do compositor e o chorinho. Além disso, toquei com Pixinguinha. Por esses dois motivos não poderia deixar de tazer algo para homenagea-lo nos 100 anos de nascimento.

P - O que Pixinguinha achava de sua música?
R - Pixinguinha era uma homem de poucas palavras. Dificilmente falava mal de alguém. Por isso, quando ele falava bem da minha música, nunca tinha certeza se estava dizendo a verdade. Foi o filho dele, Alfredo Viana Filho, com quem ainda mantenho contato, que me deu a certeza que o pai gostava da meu estilo de música.

P - Você é basicamente um músico de jazz. Como foi a mudança de estilo para o chorinho?
R - Sempre tive vontade de fazer esse tipo de trabalho. Mas no Brasil, existe uma preocupação em rotular os músicos. Em 1976, quando gravei Confusio urbana, suburbana e rural, coloquei instrumentos da percussão brasileira no disco. Apesar do álbum ter vendido - não me lembro a quantidade, mas foi expressiva -, seis meses depois estava fora da gravadora. Isso aconteceu por causa da reserva forçada de mercado e porque já me rotulavam como músico de jazz. Hoje esse quadro está mudando.

P - Como você analisa o mercado brasileiro da música instrumental?
R - O problema da música instrumental no Brasil, são as gravadoras. A maioria multinacional tenta impor um estilo de música instrumental que não passa da repetição da música americana. Essa questão se alia a falta de mídia e ao desconhecimento dos críticos, que não sabem analisar a música instrumental. Tenho certeza que, se fosse divulgada, o público aumentaria, porque, na verdade, a grande massa gosta do instrumental.

P - O jazz seria capaz de agradar ao grande público no Brasil?
R - Não poderia dizer, é claro, que teria o mesmo sucesso dos Estados Unidos, onde o ritmo nasceu. Mas penso que o público gostaria, principalmente das grandes orquestras. O problema é que se toca muito mal em conjunto no Brasil. Existem certas regras que devem ser seguidas. Na orquestra que dirijo, sou extremamente exigente com essas regras.

P - Quais são essas regras?
R - Não existe uma lista numerada. Eu diria que elas são o meu estilo de trabalho. Por exemplo: nunca deixaria a orquestra afinar os instrumentos em público. Outro ponto importante é controlar os músicos. Essa história de que cada um tem de ter espontaneidade e pode improvisar, não serve para mim. Se isso acontece, não há um conjunto.