Fundo de gaveta
Toninho Vaz  
 

Foi um dia qualquer de 1997. Um dia especial, é verdade. Eu tinha sido convidado para assistir uma audição privada de Paulo Moura na sala de pianos (show room) da Yamaha, em Nova York, para uma platéia composta de dois empresários (agentes) americanos. Numa grande sala onde existiam 8 pianos de diferentes modelos, nosso saxofonista se fez acompanhar do pianista americano Cliff Korman, com quem gravaria o CD Mood Ingênuo, em 1999. Os dois tocaram de tudo, de jazz a Pixinguinha, passando por clássicos do chorinho. Foi um privilégio, pois o ambiente era perfeito. Na sala, além das cinco pessoas já citadas (os músicos, eu e os agentes), estavam a produtora da TV Globo, Siomara Tauster, e a namorada de Paulo Moura, a francesa Halina Grynberg. Depois de almoçar num restaurante do Village, onde tomamos bom vinho sentados numa mesa de varanda, saímos pelas ruas cantando as borbulhas do amor. O Paulo Moura ficou vidrado na modinha caipira maliciosa que botei na roda e que, se não me engano, é de autoria de Ivo e Paulo Leminski, mas também pode ser de João Lopes ou de domínio público:

Eta macaio de amargar
Este fumo é uma beleza
Cada bola dez tontura
Cada tapa...
Hê hê, gostosura...

O Moura, que aprecia baforar a venenosa, quis logo aprender a letra que fui repetindo à exaustão. Depois, para encerrar o dia, fomos tomar uma saideira na Carnegie Deli – famosa pelos filmes de Woody Allen. Remexendo minhas gavetas, hoje pela manhã, encontrei 23 fotos deste tour etílico. Assim nasceu esta crônica-legenda, como diz o Wilson Bueno. Quer saber um sujeito boa praça? Paulo Moura.