Disco crítica "Paulo Moura e os Batutas" - Para chorar de tanta beleza
Ricardo Cravo Albin
O Dia
 
 

Há certos discos que tenho dificuldade de tirar do aparelho de som, tal a sedução que provocam aos ouvidos já tão cansados de enganações e mesmices. Paulo Moura e Os Batutas é um.

Gravado ao vivo no Teatro Carlos Gomes, este disco é um acúmulo de acertos. O primeiro é o repertório, quase todo dedicado às composições de Pixinguinha. Os quatro números não-assinados pelo mestre, cujos 100 anos o CD também comemora, tem toda a atmosfera pixinguiniana. Pelo Telefone (Donga), Batuque na Cozinha (João da Bahiana), Mistura e Manda (Nelson Ferreira) e, especialmente, o Urubu Malandro (Braguinha e Louro) - clássico de qualquer repertório do melhor choro carioca - bem que poderiam ser da autoria de Pixinguinha.

O segundo acerto é o conjunto liderado pelo fôlego e capacidade de Paulo Moura, que não fica a dever a qualquer grande músico mundial. O maestro - inventivo e provocador a cada novo trabalho - também sabe farejar como poucos os melhores músicos de choro, como Zé da Velha e Joel Nascimento, dois dos integrantes do primoroso octeto.

O maior de todos os acertos deste CD, contudo, é a insuperável trama provocada pelos arranjos das 16 músicas e a sonoridade do conjunto, em que cada solista tem sua hora e vez.

Para citar apenas uma música: a introdução de Ingênuo, o mais lindo choro de Mestre Pixinga - tocada à capela pelo sopro macio de Paulo Moura - logo acompanhado pelo violão de Jorge Simas – é de chorar de tanta beleza. Ainda bem que CD não gasta de tanto tocar. Porque se fosse LP, o meu exemplar já estaria inutilizado.